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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nós não temos heróis

Não quero falar aqui sobre os ideais obscuros por trás das Olimpíadas e sim voltar-me-ei para a questão cultural somente (as questões obscuras ficam para um outro texto). A abertura e o encerramento desse evento serve para mostrar um pouco da cultura do país cede e do próximo que irá receber o evento.

A Inglaterra na sua abertura e no encerramento mostrou coisas incríveis da sua história como a revolução industrial, suas tecnologias, atletas conhecidos mundialmente pelos seus feitos, intelectuais e os heróis da sua cultura em geral. Por incrível que pareça (ao meu entendimento) ainda teve a coragem (ou cara de pau) de mostrar indianos levantando um inglês. Não sei se foi no contexto "eles nos ajudaram a ser o que somos hoje", ou se foi no contexto de "estamos acima de vocês".

Mas ao fim do encerramento surge a homenagem feita ao próximo país cede, no caso, o Brasil. Esse é o momento de retirarmos todos os estigmas que o mundo tem sobre nossa cultura, poderíamos acabar com essa ideia estrangeira de "o país das bananas", "o país do futebol" e "o país do sexo". Mas ainda não foi dessa vez que isso aconteceu.

Logo de cara surge um gari no palco, ele começa a dançar e atrapalha o evento. Um segurança chega e pede que ele se retire. Nesse momento o gari o convida para dançar e o faz de melhor forma que o "gringo". Surge a ideia de que o brasileiro é superior por saber sambar como ninguém. Que diferencial nossos governantes escolheram para mostrar ao mundo, "nos dançamos melhor que todos vocês!".

Pouco tempo depois surge o "malandro", aquele cara de vestido branco, chapéu tradicional, sapatos de couro que vive nos bares de Copacabana tomando cerveja e cantando samba. É isso mesmo, primeiro um gari e depois um malandro. O gari ainda trabalha, mas o malandro é o "fim da picada" para representar o brasileiro.

A panacéia ainda não terminou. A terceira figura que entra em palco são os índios. Ora porque índios? Eles são cidadãos brasileiros? Eles gozam dos direitos de todo brasileiro que estão contidos na "utópica" Constituição de 1988? Não, não, nossos índios foram assassinados por nós, seja de forma direta ou de forma indireta. Não os respeitamos, tomamos suas terras, suas mulheres e matamos seus filhos. Hoje ainda fazemos questão de tomar as suas terras e aculturá-los. Sem falar que ninguém quer ter um filho com cara de índio, os brasileiros querem ter filho com cara de holandeses (perguntem nas ruas e dirão que não). Os EUA têm índios, mas eles não os mostram em suas aberturas e cerimônias, pois sabem que os chacinaram historicamente. Não existe sentido no Brasil mostrar os índios se o país não os respeita.

A quarta representante do Brasil é uma modelo, magra, alta, branca, bem ideal, representante perfeita da ditadura da beleza que rege o ocidente. Ainda me pergunto o que aquela mulher estava fazendo ali. Ele não tem nada de exemplar para mostrar, não é um exemplo, não chegou ali com estudo, ela é somente a materialização da beleza "perfeita". Não é exemplo de representação de um povo.

Por fim, a quinta figura representante do povo brasileiro, a mulata sambando. Digo mulata com propriedade pois existiam mulheres brancas pintadas de negro em meio as que entraram no palco. Da mesma forma que a modelo supracitada não existia sentido em colocá-las ali. Eram mulheres com a sexualidade exuberante, semi-nuas sambando e tocando tambores. Para quem é adepto do sexo-turismo foi uma "mão na roda". O comentarista da tevê ainda falou, "foi horrível, nossas mulatas do carnaval são muito superiores". Que exemplo de brazilidade para o mundo.

Resumindo a panacéia, o que quiseram passar para a platéia sem senso crítico foi: "O Brasil, país da diversidade, da paz e do samba está de portas abertas para vocês". O que quiseram passar para os que virão gastar dinheiro por aqui foi: "O Brasil, país do sexo, da vida fácil, das florestas não protegidas o aguarda junto com seus investimento e com seu dinheiro. Venha para o Brasil, invista pois o povo é acéfalo e de tabela ainda pode ver um índio e levar uma de nossas mulatas para casa".

Sem elitismo ou preconceito, (pois sou classe média baixa e pardo) não quero criar polêmica com esse texto, mas quero abrir os olhos do brasileiro (da classe média que tanto Milton Santos fala em sua obra Por uma outra globalização) para o fato que, em nossa cultura, nós não temos heróis! Nada contra o gari (sem eles nossa cidade seria um caos), mas nós deveríamos ter alguém com um feito mais memorável para dar entrada na nossa representação cultural. Não era para ali terem top models, e sim escritores famosos do Brasil que nos representam pelo mundo. Por que não colocar a foto de Paulo Freire em algum momento? E Santos Dumont aonde fica? Até mesmo o Marcos Pontes já seria um bom exemplo pra ser mostrado assim como o negro Zumbi dos Palmares representando a luta pela liberdade.

Parei o parágrafo acima pois não consegui pensar em mais ninguém. Getúlio Vargas? Tiradentes? Não, não, elitistas demais, existe muita coisa obscura acerca desses personagens. Antônio Conselheiro? Talvez, mas quando a religião vira utopia generalizada não se espera muito de uma nação. Princesa Isabel? Essa não, sabemos muito bem das pressões inglesas acerca da libertação dos escravos. Ora, então quem são os nossos heróis? A verdade é, não os temos. 

O que se espera de uma nação sem exemplos, sem heróis? A polícia deveria ser nossos heróis, mas ela atualmente mata da mesma forma que os traficantes matam. Os médicos? não, não, viraram mercenários, vampiros bebedores de sangue dos doentes buscando sempre os planos de saúde que pagam melhor e buscando as especializações que tem maior retorno financeiro. Busque um pediatra e entenderá do que eu estou falando. E os intelectuais? ele seriam nossos heróis pensando um futuro melhor? Desculpe, mas não. Gostaria de dizer que sim, mas o capitalismo penetrou nas universidades de forma que dita os caminhos da ciência. Esse caminho é sempre voltado para o capitalismo. Hoje não se pensa no celular mais barato para todos terem acesso à informação, se pensa no mais moderno para "quebrar" a concorrência e se é mais moderno é mais caro consequentemente. O pobre perde o direito de obtê-lo. Se o pobre não o tem a tevê diz que ele não é gente se não o tiver. A violência se alastra nas ruas, o pobre mata para ter o que lhe é negado.

Chegamos longe? Saímos de uma festa de encerramento das Olimpíadas e paramos no caos social. Mas é assim mesmo, já diziam os adeptos da teoria do caos "o simples bater de asas de uma borboleta aqui pode provocar um furacão na China". Ou seja, precisamos de heróis, heróis de verdade, grandes exemplos de brasileiros que lutem pela nossa nação ao todo, sem distinção de cor, religião ou classe social. Precisamos de heróis que façam o Brasil sair da condição de "país das bananas, do sexo e do futebol" para o "país do futuro", o "país da educação".

Obs: Espero que vocês tenham senso crítico de saber o porquê de não falar acerca da Xuxa, do Airton Senna e do Pelé.

domingo, 5 de agosto de 2012

O neoneocolonialismo?

A globalização é, segundo Milton Santos, fábula e perversidade. Como o mundo está mapeado o capitalismo não demorou muito para perceber o quanto os antigos impérios e as antigas ditaduras do mundo não moderno são potenciais mercados consumidores caso se adequem ao modelo "democrático" capitalista. Junto com a potencialidade petrolífera temos a desculpa perfeita para as invasões.

Primeiro foi o Iraque por meio da força unilateral dos EUA e com a desculpa "vocês tem armas químicas!" indo até mesmo contra a ONU. O mundo não aceitou essa unilateralidade americana. Parece que eles perceberam que o mundo não precisa dos EUA. Os acordos multilateriais ganharam força em todo o mundo e os EUA baixaram um pouco a cabeça e aceitaram essa nova forma de relação internacional pós Bush (é como se a ONU dissesse, saiba ser imperialista meu amigo, os tempos mudaram).

Veio então a Primavera Árabe, coincidentemente dentro dessa realidade global de necessidade de mais mercados consumidores e de mais matérias primas, vide petróleo. O alvo são os governos ditatoriais - não democráticos. Até mesmo quem já foi aliado dos EUA se torna inimigo, "precisamos instalar a democracia" gritam os rebeldes. Mas quem são esses rebeldes? Saídos do nada e tão bem armados? Aparecem rebeldes em cima de tanques de guerra em todos os lugares, armados com os mais modernos fuzís e metralhadoras. A mídia diz "é o povo clamando por democracia!". Desde quando o povo sabe o que é democracia? Por acaso a "utopia" não se instala em todos os governos de formas diferentes (futebol em alguns, em outros basquete, em outros religião etc.). Foi preciso alguém se infiltrar nesses territórios e explicar o que é democracia (pelo viés da burguesia) e como se usam as armas modernas emprestadas - claro.

Essa é a resposta que nunca será aceita nos vestibulares atuais (quem sabe daqui a uns 10 a 20 anos): A primavera Árabe é uma nova forma de imperialismo, é um novo colonialismo (assim como o tradicional) e o neocolonialismo pré guerras mundiais. A ONU é uma instituição hipócrita fomentadora da "democracia" e por seguinte, da sustentação do espaço para a implantação da globalização perversa e do capitalismo informacional. O povo árabe (rebeldes), assim como na Revolução Francesa se armou para cavar a própria cova. A mesma ajuda indireta fornecida pelos EUA nas guerras paralelas ocorridas no período conhecido como Guerra Fria está ocorrendo novamente, sempre de forma infiltrada e sorrateira.

A discussão aqui não é apoiar os regimes ditatoriais que lá existem, e sim avisar ao mundo dessa nova forma perversa de expansão do capitalismo. As ditaduras devem ruir, a democracia deve surgir, mas não essa democracia capitalista. A democracia que queremos é uma democracia onde o povo governe não a burguesia. Que o povo possa intervir com mais força nas ações do governo, que os políticos corruptos sejam condenados exemplarmente, que a renda seja dividida de forma equânime e que os direitos sociais sejam fomentados ao extremo. O que queremos é uma nova globalização (Milton Santos) e quem sabe, um mundo mais justo e melhor de se viver.